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terça-feira, 22 de junho de 2010

Separações, luto e rituais



Toda a sociedade humana necessita de rituais e processos para solidificar suas estruturas organizacionais, nós, seres humanos também precisamos de rituais de passagem, não somos diferentes. Processo é um caminho a ser percorrido. Cada um de nós para se constituir passa por um processo constante de crescimento e amadurecimento. Temos uma vida permeada por rituais: aniversários, formaturas, casamentos, etc...
O simbolismo dos ritos nos ajudam a representar aquilo que muitas vezes não se consegue dizer. Os rituais nos ajudam a suportar melhor a passagem de um estado de ser para outro, nos abrindo uma porta para uma nova fase na vida.
Para passarmos do estado civil de solteiro para o de casado é necessário o ato do casamento, tanto o civil quanto o religioso exigem uma preparação ritualística. Os rituais de passagem nos transportam de uma posição para outra, significando também um momento de decisão. Decidir significa responsabilidade e ter que deixar algo para trás. Por isso muitas vezes esses rituais e decisões vêem acompanhados de sofrimento. Assim toda decisão significa perder e ganhar alguma coisa simultaneamente.
O fim de uma relação amorosa é uma experiência cada vez mais comum entre os casais da sociedade ocidental, entretanto o comum não quer dizer banal, pois todas as separações são traumáticas, mas como cada um vivencia o fim ou o fracasso de uma relação amorosa estável é diferente.
Para algumas mulheres é mais difícil, principalmente se forem elas que ficarem com a casa, a sensação de abandono naquele espaço é ainda maior. Algumas desenvolvem mecanismos de elaboração depressiva para superar a dor.
Hoje se cobra felicidade eterna, seja feliz, Carpem Diem e etc... Eternas frases lidas e relidas nos perfis de site de relacionamentos. Sofrer? Jamais. Essa negação do sofrimento gera muito mais dor e uma maior carga de angustias para uma relação futura. É claro que a sociedade contemporânea dificulta a elaboração do luto com a negação do sofrimento de uma separação. Não é obrigatório sofrer, mas também não é proibido.
Um dos mais sofridos e traumáticos rituais é o da separação conjugal, alguns não conseguem transpor esse ritual e viver o luto necessário. O luto é talvez a única possibilidade de não ser destruído junto com o casamento, é imprescindível para o processo do abandono, da perda de forma criativa.
O luto é a reação a perda de um ente querido, é o mundo que se torna vazio. Algumas pessoas não conseguem dar andamento ou terminar esses processos, pois possuem grandes dificuldades de lidar com o luto, não conseguindo elaborar esse processo.
Contudo é preciso entender que a passagem do estado civil para outro, traz o mesmo sentindo do casamento, apesar do sofrimento do abandono. As pessoas se casam para serem felizes e se separam também, à procura da felicidade, o que é difícil é a dor da perda. Cumprir rituais, sair da posição de sofrimento, elaborar o luto, pode significar tomar a rédeas da própria vida e do próprio caminho.


bibliografia Consultada: PEREIRA CUNHA, Rodrigo & GOENINGA CAMARA, Giselle. Direito de Família e Psicanálise- Rumo a uma nova epistemologia. Rio de Janeiro: Imago, 2003.

Um comentário:

  1. Anestesiada a dor percebemos o quanto apreendemos mais na separação do que no próprio relacionamento.

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